Entusiasmo, assombroso deslumbramento :  viver É pensar É fazer “coisas”.

Auto-edito livros de artista porque isso me permite questionar e por em prática diversas formas de desenvolver o forte carácter narrativo e a relação sequencial - linear ou fragmentada - patente nos desenhos que faço. Se publicar é tornar público reivindico a liberdade e assumo a responsabilidade para o fazer – porque assim o desejo e me é permitido pela lei e pelo estado 1. Publico livros de artista porque este é um tipo de trabalho que (ainda) escapa à rigidez do meio institucional e galerístico. Ofereço ou troco livros, secundarizando aspectos económicos, criando uma rede afectiva de partilha de experiências com outros “fazedores” e amantes de livros. Um livro de artista de pequeno formato, ao contrário de outras formas de expressão artística, manuseia-se, transporta-se no bolso ou na mala junto ao corpo, possui-se com uma intimidade peculiar; porque cada livro pode ser uma experiência inquietante e/ou de prazer mas resulta sempre de um lapso de tempo e de espaço partilhados – como define Anne Moeglin Delcroix, le livre n’a pas un sens il est son sens 2.

Numa entrevista, Foucault define a sua relação com a escrita dizendo que “(…) escrever é lutar, resistir; escrever é devir; escrever é cartografar (…)” 2. Contudo, tanto o corpo que cartografa como o mundo cartografado alteram-se quotidianamente e a tarefa de mapear o mais pequeno dos mundos pode parecer infindável. Aproprio-me das suas palavras subvertendo-as à minha prática artística enquanto fazedora de livros e imagens: - “desenhar é devir;  publicar, é cartografar” um mapa de afectos, referências e saberes em permanente expansão.

Isabel Baraona, 2012

Pli Arte + Design Entusiasmo, N2/3, 2012


1 Noutras latitudes muitas mulheres não o podem fazer.

2 Moeglin-Delcroix, Anne- Esthétique du livre d’artiste. Paris, Ed. Jean Michel Place/Bibliothèque National de France, 1997. Pág. 10

3 Deleuze, Gilles – Foucault. Lisboa, Vega, 1987