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Fragmento do artigo "Nota de intenÇÕes sobre Tipo.PT"

Tipo.PT é um arquivo online sobre livros de artista, objectos gráficos de natureza experimental, revistas e edições de autor criados por artistas, designers e ilustradores portugueses, ou tendo Portugal como tema. Os periódicos ou determinadas colecções são tratados separadamente. As revistas de artista são objectos em si mesmo muito especiais e fundamentalmente diferentes das outras publicações por serem geralmente obras colectivas com diversos números, enquanto a maioria dos livros é concebida por um autor só e em muitos casos num contexto muito específico1. Os objectos catalogados são múltiplos, edições no formato livro, desdobrável ou brochura, postais e cartazes, impressos em qualquer técnica: off-set, digital e laser, gravura, tipografia, serigrafia e outras técnicas oficinais de impressão.

A estrutura e organização do arquivo teve como modelo ABSonline2 uma plataforma sobre livros de artista concebida e desenvolvida por Johanna Drucker entre 2004-2008. Tipo.PT existe como uma consequência natural da colaboração entre Brad Freeman, a Catarina Figueiredo Cardoso e eu na elaboração do Journal of Artists' Books #323, revista inteiramente dedicada ao panorama português da auto-edição e livros de artista. Tipo.PT é também fruto indissociável das conferências "o que um livro pode"4 organizadas em 2011 e 2012 por mim e três amigos: a Cláudia Dias, associada da Oficina do Cego, e o David Guéniot e a Patrícia Almeida, editores da GHOST. Ou seja, Tipo.PT é uma tomada de posição activa na divulgação de projectos editoriais de grande qualidade mas que, por diversas razões, têm ainda pouca visibilidade em Portugal.

Por ser professora há vários anos considerei importante investir na parte pedagógica, procurando dar informações específicas, técnicas, sobre cada edição e, sobretudo, referir as bibliotecas públicas onde  estes objectos podem ser consultados. Alguns destes livros são caros, muitos são raros e difíceis de encontrar por terem tiragens pequenas ou a sua distribuição ser restrita a um pequeno grupo de coleccionadores.

Este não é um projecto de curadoria no sentido estrito do termo.  Mais do que escolher autores, queremos documentar o número mais abrangente possível de edições. Ou seja, as fichas técnicas são feitas em função das características dos objectos gráficos e não do renome dos seus autores. Quando se consulta o arquivo encontramos informações sobre livros concebidos por Julião Sarmento, por exemplo, mas também de um grande conjunto de artistas mais jovens e alguns ilustradores que, nos últimos anos, têm vindo a fazer um trabalho consistente mas discreto neste campo. Incluímos ainda um conjunto de obras de difícil classificação, produzidas artesanalmente em tipografia, geralmente fruto de uma colaboração entre poetas e impressores, como é o caso dos livros publicados por O Homem do Saco.

(...)Queremos compreender melhor o papel que estas edições tiveram em termos de divulgação das vanguardas e novos movimentos artísticos, assim como o seu uso reivindicativo e político. Com o acumular e sistematizar de informação penso que um dos aspectos interessantes será o poder comparar o uso e os diversos contextos que a edição teve ao longo dos anos ou mesmo décadas por certos artistas.

(...)Tipo.PT é um arquivo em desenvolvimento, em aberto, que não estará nunca completo, a menos que os artistas portugueses deixem de fazer livros ou editar múltiplos. Pretendemos desenvolver e investir a longo prazo no arquivo Tipo.PT  e no Portuguese Small Press Yearbook enquanto projecto pessoal. No caso da Catarina, como coleccionadora e mecenas interessada e curiosa; no meu caso como uma extensão da minha prática artística e como ferramenta pedagógica.

Concluo agradecendo a colaboração de todos os artistas que nos cederam informações e imagens. Apesar da falta de apoios institucionais, tem sido gratificante conseguir criar, de modo informal, uma rede colaborativa. Ao longo deste processo de trabalho apostámos em pôr artistas em contacto com editores, gerando trocas de livros e de experiências pessoais, sedimentando uma comunidade de artistas, fazedores de livros e editores, tornando-nos a todos mais consciente de que não estamos sozinhos perante as dificuldades actuais.

Isabel Baraona, 2013


1 Para citar dois exemplos concretos, no caso de Carla Cruz a edição é indissociável de algumas performances e da sua investigação activa sobre o feminismo; no caso de Gonçalo Sena são uma extensão do seu trabalho de escultura e instalação.
2 www.artistsbooksonline.org
3 http://www.journalofartistsbooks.org/jab32/issue.html
4 http://oqueumlivropode.tumblr.com/